Oi, namorado!
Há quanto tempo a gente não se chama assim.
Tô aqui tentando lembrar quando foi nosso último encontro.
Ah...aquele no corredor, essa madrugada, não vale.
Mal te vi passar com o caçula no colo, enquanto eu corria com o termômetro para a mais velha.
Hoje não vai ter lingerie nova.
As últimas que comprei precisavam ser confortáveis, por causa da cesárea.
Hoje não vai ter jantar fora.
Ficar na fila do nosso restaurante favorito com crianças no colo… não parece romântico.
Lembra quando era só a gente aqui?
Eu não lembro.
Mas às vezes imagino uma casa silenciosa demais, organizada demais, sem vida.
Hoje, nossas vidas babam no travesseiro e invadem nosso quarto de madrugada.
Namorar ficou mais difícil.
Mas eu ainda tô aqui.
Com o cabelo desarrumado.
Com esse roupão que você detesta.
Mas tô aqui, entre uma mamada e outra, te escrevendo essas palavras.
Essas palavras que têm me ajudado a traduzir o que sinto nesses dias tão confusos.
Eu te vejo.
E me apaixono de novo por você, mesmo no meio do caos.
Me apaixono quando você chega cansado do trabalho
e, do nada, me surpreende com um botão de rosas, sem data especial.
Me apaixono quando, ao me ver pegar o bebê pra amamentar,
você já coloca o copo d’água do lado da poltrona.
Me apaixono de novo quando, no fim de semana,
você enche o congelador pra facilitar a próxima semana.
Me apaixono de novo quando, no meio da madrugada,
ouço passinhos e, antes que cheguem até mim,
escuto seu sussurro:
“Vem aqui com o papai… vamos deixar a mamãe descansar.”
Me apaixono toda vez que, no almoço de família,
escuto você comentando, sem saber que estou ouvindo:
“Cara, ela ficou ainda mais bonita depois das crianças.”
Eu te amo.
E sigo aqui, mesmo cansada, mesmo confusa.
Porque um dia, quando essa casa for só nossa de novo, quero rir contigo lembrando de como o amor sobreviveu a tudo.
Até às madrugadas.